Uma equipa de pesquisa finlandesa que investiga lesões relacionadas com trotinetas revela que os dados recolhidos mostram uma taxa mais alta de lesões associadas a trotinetas em comparação com outros modos de transporte suave analisados em estudos anteriores.
A nova pesquisa identificou 331 pacientes com lesões relacionadas a trotinetas que foram admitidos no departamento de acidentes e emergência em Tampere, uma cidade de cerca de 226.000 pessoas na Finlândia, entre abril de 2019 e abril de 2021.
Dados de empresas de aluguer de trotinetas que operam na cidade finlandesa revelaram que os condutores destes veículos fizeram mais de 1,8 milhão de viagens durante este período, o que significa que ocorreram cerca de 18 admissões em urgências por 100.000 viagens ou 7,3 por 100.000 km percorridos.
Embora os números comparáveis sejam escassos, esta taxa é muito maior do que as taxas de lesões estimadas anteriormente para outros modos de transporte, incluindo circular a pé, bicicleta ou duas rodas a motor, disse o principal autor do estudo, o cirurgião ortopédico Aleksi Reito, ao canal de notícias Euronews.
“Com base nestas estimativas, parece que as lesões com trotinetas elétricas têm maior incidência em comparação com outros modos de transporte”, afirmou.
Um estudo de 2007 nos Estados Unidos estimou que para cada 100.000 viagens ocorriam 10,3 lesões decorrentes de acidentes com veículos de duas rodas a motor, 1,4 para acidentes que envolvem ciclistas e 0,2 para peões.
Outro estudo identificou taxas de lesões de 2,3 por 100.000 km para ciclistas na Austrália, enquanto que os números do governo britânico colocam os números em 0,3 lesões de ciclistas por 100.000 km e 0,11 para peões.
“É claro que existem algumas limitações de generalização, como a cultura do trânsito e a segurança rodoviária na Finlândia em comparação com outros países. Mas diria que, em geral, o nosso estudo fornece uma inédita e boa estimativa das taxas de lesões com trotinetas elétricas”, disse Reito.
Mais de 60% dos pacientes em Tampere eram homens, 51% destes sob a influência de álcool ou outras substâncias quando a lesão ocorreu. As lesões mais comuns foram na cabeça ou no rosto, segundo o estudo.
“Quase metade dos pacientes foram internados entre a meia-noite e as 6h da manhã. Portanto, o paciente típico é um homem bêbado que conduz à noite”, disse Reito à Euronews.
As descobertas corroboram o que muitas autoridades da cidade já sabiam.
Em julho de 2021, a capital norueguesa Oslo proibiu o aluguer noturno de trotinetes elétricas após protestos de médicos sobre o número de ferimentos resultantes de incidentes com estes veículos.
A Finlândia considera a proibição parcial das trotinetas elétricas e a redução dos limites de velocidade, após os ferimentos relativos a acidentes com estes veículos sobrecarregarem os hospitais.
As trotinetas elétricas enfrentam uma forte “repressão” na Suécia após vários acidentes e problemas de estacionamento.
Em setembro, as autoridades da capital finlandesa Helsínquia proibiram o aluguer de trotinetas elétricas após a meia-noite aos fins de semana, sendo que em novembro os vereadores de Estocolmo já tinham votado para reduzir o número deste tipo de veículos disponíveis na cidade.
Embora os investigadores não tenham aferido especificamente se os pacientes se feriram ao circular com trotinetas elétricas partilhadas ou com os seus veículos elétricos pessoais, os médicos reportaram que a grande maioria circulava com recurso a trotinetas alugadas na rua.
“Espero que tal afete a forma como as empresas planeiam as suas medidas de segurança relativas às trotinetas elétricas”, disse ele.
“O transporte urbano evolui e acho que as trotinetas elétricas vieram para ficar. Mas se deverão estar disponíveis à noite e após o horário de encerramento dos bares já é alvo de discussão”, acrescentou.