Novo relatório do ETSC revela lacunas na subnotificação que escondem a verdadeira dimensão do problema

A Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) alerta para a necessidade urgente de reforçar medidas de segurança rodoviária em Portugal, na sequência das conclusões do mais recente relatório PIN Flash 48, do Conselho Europeu de Segurança nos Transportes (ETSC). O estudo revela que, apesar dos progressos na redução da sinistralidade rodoviária, a diminuição do número de feridos graves está a ocorrer a um ritmo significativamente mais lento do que a redução do número de vítimas mortais.

Entre 2013 e 2023, as mortes nas estradas da UE27 diminuíram 16%, enquanto os feridos graves na UE24 registaram uma redução de apenas 13%, o que representa um desafio para atingir a meta europeia de reduzir para metade as lesões graves até 2030. Portugal acompanha esta tendência, estando aquém das reduções desejáveis para garantir uma maior proteção dos utentes da via.

Subnotificação compromete segurança rodoviária

O relatório sublinha também a existência de uma subnotificação significativa de feridos graves em acidentes rodoviários. Muitos casos não são corretamente reportados pelas autoridades policiais, especialmente quando envolvem ciclistas e peões, o que leva a uma perceção irrealista da real dimensão do problema. Estudos internacionais apontam para disparidades alarmantes: na Chéquia, apenas 43% dos ferimentos graves registados pelo sistema de saúde estavam presentes nas bases de dados policiais, e nos Países Baixos, apenas 12% dos ferimentos graves em acidentes sem envolvimento de um veículo motorizado foram reportados pela polícia.

A PRP defende que Portugal deve reforçar a integração de dados hospitalares com as estatísticas das autoridades para garantir uma fotografia mais realista da sinistralidade rodoviária.

Utentes vulneráveis continuam em risco

O estudo do ETSC destaca que os utentes mais vulneráveis – ciclistas, peões e motociclistas – continuam a apresentar um risco desproporcionalmente elevado de sofrer ferimentos graves. O aumento da mobilidade ativa, com um crescimento do uso de bicicletas e trotinetas elétricas, torna ainda mais premente a necessidade de implementar infraestruturas seguras e medidas específicas de proteção.

Sistema Seguro: uma abordagem essencial

Para enfrentar estes desafios, a PRP defende a adoção de uma abordagem baseada no conceito de “Sistema Seguro”, tal como recomendado pelo ETSC, que se baseia em seis pilares fundamentais:

  1. Governação e gestão – Melhor coordenação entre entidades, transparência nos dados e financiamento adequado;
  2. Velocidades seguras – Ajuste dos limites de velocidade ao ambiente rodoviário e vulnerabilidade dos utentes;
  3. Infraestruturas seguras – Desenvolvimento de estradas que minimizem o risco de colisões e reduzam a gravidade das lesões;
  4. Veículos seguros – Promoção de tecnologias de segurança nos veículos para proteção dos ocupantes e utentes vulneráveis;
  5. Utilizadores seguros – Educação e fiscalização para incentivar comportamentos responsáveis;
  6. Assistência pós-colisão – Melhor resposta de emergência para minimizar as consequências dos acidentes.
Apelo da PRP

A Prevenção Rodoviária Portuguesa apela ao Governo e a todas as entidades competentes para que reforcem o compromisso com a segurança rodoviária.

“Os números deste relatório são um alerta para Portugal. É necessário caracterizar a sinistralidade com o maior detalhe e rigor possível, através de dados credíveis e fidedignos, para conseguirmos selecionar as medidas de segurança rodoviária prioritárias a implementar. Precisamos de uma resposta mais eficaz para proteger todos os utentes da estrada, com um foco particular nos mais vulneráveis. Apenas com uma abordagem integrada e medidas concretas poderemos reduzir significativamente o número de vítimas e cumprir as metas europeias.”, afirma Alain Areal, Presidente da PRP.

A PRP reafirma o seu compromisso com a segurança rodoviária e continuará a trabalhar para promover estradas mais seguras para todos os cidadãos.