Por que devemos defender cidades com limite de 30 km/h?
O relatório da Organização Mundial de Saúde é claro: 1.19 milhões de mortes e mais de 50 milhões de feridos anualmente são o resultado direto de acidentes rodoviários, com mais de metade das vítimas a serem utentes vulneráveis da estrada: peões, ciclistas e motociclistas. A velocidade excessiva é o principal fator que agrava a gravidade desses acidentes, sobretudo em zonas urbanas, onde a convivência entre diferentes modos de transporte é inevitável.
Mas existe uma medida simples, eficaz e cientificamente comprovada que pode mudar este cenário: implementar limites de velocidade de 30 km/h em zonas urbanas.
Benefícios comprovados da redução da velocidade para 30 km/h
Estudos recentes mostram que a redução do limite de velocidade para 30 km/h tem impactos positivos em múltiplas frentes, da segurança rodoviária à saúde pública, passando pelo ambiente e pela eficiência do tráfego.
1. Redução drástica dos acidentes e das vítimas
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Redução média de 45% nas mortes e de 40% nos feridos em cidades que adotaram o limite de 30 km/h;
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A probabilidade de um peão sobreviver a um atropelamento a 30 km/h é de cerca de 90%. A 50 km/h, cai para menos de 50%.
2. Ambiente urbano mais limpo e saudável
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Menos emissões: redução média de 20% em CO₂ e até 35% em NOx;
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Redução de 3 a 5 dB no ruído rodoviário, melhorando o descanso noturno e reduzindo doenças associadas ao stress urbano.
3. Menor consumo de combustível
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Com velocidades mais constantes e menos acelerações bruscas, o consumo de combustível pode diminuir até 7%, contribuindo para frotas mais eficientes e cidades menos poluídas.
4. Trânsito mais fluido e seguro
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Apesar de parecer contraintuitivo, cidades com limite de 30 km/h registam melhor fluidez e menos congestionamentos devido à redução de colisões e ao maior aproveitamento da capacidade viária.
5. Mais espaço para as pessoas e para a vida
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A redução da velocidade promove modos de transporte ativos como andar a pé e/ou bicicleta, tornando o espaço urbano mais atrativo, inclusivo e saudável;
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Populações vulneráveis: como crianças, idosos e pessoas com mobilidade reduzida ganham maior liberdade e segurança.
Cidades que já avançaram com sucesso
Glasgow, Bruxelas, Paris, Zurique e muitas outras cidades europeias já adotaram zonas com limite de 30 km/h, reportando reduções superiores a 30% nos acidentes, bem como melhorias substanciais na qualidade de vida urbana.
Porque 30 km/h é uma questão de justiça social
O modelo tradicional de mobilidade urbana, centrado no automóvel e na velocidade, impõe custos elevados à saúde e à segurança das populações mais frágeis. Adotar limites de 30 km/h não é apenas uma medida técnica, é uma escolha ética e de equidade.
O caminho a seguir
A evidência é clara. Cidades mais seguras, saudáveis e habitáveis começam com a decisão corajosa de colocar a vida no centro da mobilidade. Implementar o limite de 30 km/h deve ser uma prioridade política, acompanhada de:
- campanhas de sensibilização;
- alterações no desenho urbano;
- e fiscalização inteligente.
Não se trata de desacelerar as cidades — trata-se de acelerar o futuro da mobilidade segura e sustentável.