Para o Mês da Mulher, a Global Youth Coalition for Road Safety divulgou um documento orientador de políticas para auxiliar ao alcance do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5, que estabelece a ligação entre igualdade de género, a segurança rodoviária e a mobilidade sustentável.

O resumo de propostas políticas do ODS 5 fala sobre a falta de planeamento e implementação sensíveis ao género nos sistemas de mobilidade que impeçam a igualdade de género. Também explica como esta questão prejudica a obtenção do ODS 3.6: reduzir para metade o número de mortes e lesões rodoviárias até 2030.

Além de discutir as metas mencionadas na Agenda 2030 para a segurança rodoviária e outras áreas de desenvolvimento, este documento de políticas também destaca a realidade que meninas e mulheres enfrentam ao recorrer aos sistemas de transporte não construídos para elas. O resumo destaca dados que revelam como as mulheres são desproporcionalmente afetadas, não apenas no acesso à mobilidade, mas em como são afetadas se alguma vez se envolverem num acidente rodoviário.

Os sistemas de transporte são a espinha dorsal das nossas sociedades: dão-nos acesso à educação, serviços de saúde, oportunidades económicas e participação política e social. Sem esses sistemas, a qualidade das nossas vidas diminuiria drasticamente.

E, no entanto, para muitas mulheres e meninas em todo o mundo, recorrer aos sistemas de transporte significa aumentar o risco de lesões, assédio, violência e até morte.

Em geral, as mulheres usam mais o transporte público do que os homens, apesar da sensação de insegurança e do risco de receber atenção indesejada, assédio ou agressão. Devido à natureza do seu emprego, também costumam viajar fora da hora de ponta , o que só aumenta a sua vulnerabilidade. Para se protegerem, viajam em grupo, optam por opções mais caras de mobilidade privada (se tiverem recursos), mudam de rota ou não viajam. Todas estas decisões forçadas apenas intensificam as desigualdades existentes e reforçam os estereótipos de género e exclusão social. E, infelizmente, esse problema é visível em todas as partes do mundo. Na América Latina, 60% das mulheres sofrem assédio físico no transporte público e em França, as estatísticas são ainda piores. Por terras gaulesas, todas as mulheres serão assediadas no transporte público pelo menos uma vez. Um estudo de Delhi revelou que 95% da mobilidade das mulheres é alvo de restrições devido ao medo de agressão.

Algumas das conclusões a ter em conta:

  • Homens com menos de 25 anos têm três vezes mais probabilidades de morrer em acidentes rodoviários do que mulheres da mesma idade, mas as mulheres têm 20 a 28% mais probabilidades de morrer num acidente do que os homens;
  • As mulheres são 47% mais propensas a sofrerem danos em acidentes do que os homens e, apesar de usarem o cinto de segurança,  têm uma probabilidade 17 vezes superior de morrer do que os homens;
  • As mulheres são desproporcionalmente impactadas pelos acidentes rodoviários, particularmente mulheres em famílias de baixos rendimentos;
  • Globalmente, as mulheres enfrentam um risco maior de serem gravemente feridas enquanto peões e enfrentam maiores riscos como passageiros de veículos do que os homens;
  • Vários estudos revelam uma alta prevalência de assédio sexual ou violência sofrida por mulheres no transporte público ou em espaços públicos:
    • 54%, no Quénia;
    • 71% no Nepal;
    • 83% Egipto;
    • 99,6% no Brasil
    • 100% em França.
  • Em 46 países estudados, apenas 17% dos empregos no setor dos transportes são ocupados por mulheres.

Tecnologias de segurança dos veículos são projetadas e testadas para corpos masculinos não protegendo as mulheres com tanta eficácia

Não só no transporte público as mulheres correm mais riscos. As mulheres são 47% mais propensas a serem feridas em acidentes rodoviários do que os homens, e 20 a 28% mais propensas a morrer. Números chocantes, porque, hipoteticamente, as taxas de mortalidade rodoviária em toda a UE cairiam 20% se todos os utentes da estrada conduzissem como as mulheres.

O fato de que, na Europa, as mulheres são mais propensas a serem mortas como passageiras de automóveis ou peões do que como condutoras corrobora essa teoria. Uma das razões pelas quais as mulheres têm maior probabilidade de serem gravemente feridas ou mortas num carro é a falta de tecnologias de segurança veicular adaptadas. Estas tecnologias ainda são frequentemente projetadas e testadas para corpos masculinos e, portanto, não protegem as mulheres com tanta eficácia.

Todos, homens e mulheres, devem usar todos os tipos de meios de transporte sabendo que estão protegidos e seguros. São necessárias mais pesquisas e campanhas para combater a violência de género e criar sistemas de mobilidade inclusivos.