trotinetas
Nos últimos anos, as bicicletas e trotinetas elétricas tornaram-se parte integrante da paisagem urbana em Portugal. Com a crescente procura por formas de mobilidade mais sustentáveis, económicas e amigas do ambiente, também aumentou o número de sinistros rodoviários que envolvem estes veículos. Em 2024, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) registou 3230 ocorrências com bicicletas e trotinetas, um crescimento alarmante de 278% face a 2019.
A mobilidade suave está a mudar as cidades, mas as infraestruturas ainda não acompanharam
Com a adesão de jovens, adultos ativos e até menores de idade à mobilidade suave, a realidade das cidades mudou. No entanto, o debate sobre se o desenho urbano está orientado para o automóvel, não garantindo condições de segurança adequadas para ciclistas e peões mantém-se.
Segundo dados da PSP e da ANSR, 73% dos acidentes com trotinetas e bicicletas devem-se a colisões, geralmente com veículos motorizados. Automóveis estão envolvidos em cerca de 70% dos sinistros registados. Este cenário confirma que a partilha do espaço rodoviário continua a ser um desafio diário para quem opta por modos de transporte alternativos.
Perigos reais, soluções possíveis: o papel da infraestrutura e da regulamentação
As instituições europeias também se manifestam. A Comissão Europeia apelou a “mais e melhores infraestruturas”, com ciclovias segregadas do trânsito motorizado e espaços de estacionamento seguros. Paralelamente, o Parlamento Europeu já sugeriu um limite de 30 km/h em zonas residenciais e com elevada presença de utentes vulneráveis, uma medida que cidades como Paris ou Madrid já implementaram com sucesso.
Em Portugal, este passo ainda está por dar, apesar do apelo da Prevenção Rodoviária Portuguesa, que defende a urgência de políticas integradas para promover a mobilidade suave em segurança.
Seguros para bicicletas e trotinetas: cresce a procura por proteção
A par do aumento dos sinistros, cresce também o interesse por seguros específicos para bicicletas e trotinetas elétricas. De acordo com as seguradoras, houve um aumento de cerca de 30% nas apólices em vigor no último ano, com os jovens adultos urbanos a liderar a procura.
Os seguros disponíveis no mercado oferecem vários níveis de proteção, desde a responsabilidade civil (para danos a terceiros), até à cobertura de danos próprios e assistência médica. Algumas apólices podem começar nos 27 euros anuais, tornando esta proteção acessível para muitos utilizadores.
Ainda assim, a maioria das apólices automóvel já inclui extensões de cobertura para a condução de velocípedes, embora os seguros exclusivos para bicicletas ainda sejam considerados “residuais”.
Perfil das vítimas: jovens e adultos ativos estão entre os mais afetados
Os dados hospitalares reforçam a preocupação: só a Unidade Local de Saúde São José, em Lisboa, registou 1038 atendimentos de urgência relacionados com bicicletas e trotinetas em 2024. A maioria dos feridos são menores de idade ou pessoas em idade ativa, ou seja, cidadãos cuja integridade física afeta diretamente a sua vida académica ou profissional.
Por exemplo, entre os feridos em trotinetas, 390 tinham entre 20 e 29 anos e 301 entre os 30 e 39 anos. Já nos acidentes com bicicletas, as idades distribuem-se entre jovens dos 10 aos 19 anos e adultos entre os 40 e os 59 anos.
Capacete e velocidade: temas (ainda) em debate
O uso de capacete continua a ser um tema controverso. Enquanto em países como França, Itália ou Suécia o seu uso é obrigatório para trotinetas, em Portugal não existe imposição legal nesse sentido, embora a PRP recomende a sua utilização e o respetivo reforço da regulamentação. Por outro lado, os especialistas alertam: trotinetas com velocidade superior a 25 km/h são ilegais e aumentam o risco de acidentes graves.
A ascensão da mobilidade suave é um passo positivo para um futuro mais sustentável, mas não pode vir à custa da segurança. É imperativo que as cidades portuguesas invistam em infraestruturas seguras e adequadas, que promovam uma convivência harmoniosa entre todos os utentes da estrada. A educação rodoviária, o respeito pelas regras de trânsito e a proteção adequada, como o uso de capacete e a contratação de seguros, são passos cruciais para que a mobilidade suave seja, de facto, suave para todos.
A segurança rodoviária é uma responsabilidade partilhada.