Campo de visão dos condutores diminui

Os veículos modernos estão a criar mais ângulos mortos, comprometendo a segurança dos utentes mais vulneráveis

O design dos automóveis está a comprometer a visibilidade dos condutores. Um novo estudo do Volpe Center, do Departamento de Transportes dos EUA, revela que os ângulos mortos frontais aumentaram de forma significativa nos carros mais recentes.

O que mudou nos últimos 25 anos

Os investigadores analisaram seis modelos dos veículos mais vendidos nos EUA, Honda CR-V, Honda Accord, Chevrolet Suburban, Toyota Camry, Ford F-150 e Jeep Grand Cherokee, e compararam versões lançadas entre 1997 e 2023.

O resultado foi claro: quanto mais recente o modelo, menor é o campo de visão direto do condutor.

  • No Honda CR-V, a visibilidade à frente até 10 metros caiu de 68% (modelo de 1997) para 28% (modelo de 2022);
  • No Chevrolet Suburban, passou de 56% (modelo de 2000) para 28% (modelo de 2023);
  • Mesmo nos modelos com menos alterações, como o Honda Accord e o Toyota Camry, registou-se uma descida entre 5% e 8%.

O Insurance Institute for Highway Safety (IIHS) sublinha que esta redução coincide com o aumento de 37% das mortes de peões e 42% das de ciclistas nas estradas norte-americanas desde o final dos anos 90.

Por que os ângulos mortos estão a aumentar

Os carros cresceram em altura, largura e peso. O veículo ligeiro médio nos EUA é hoje cerca de 25% maior do que há três décadas.
Além disso, vários elementos de design reduzem o campo de visão direto:

  • Capôs mais altos e planos;
  • Suportes verticais (pilares A) mais espessos;
  • Espelhos laterais de maiores dimensões e carcaças volumosas.

Estes componentes, embora importantes para a estrutura e segurança do veículo, criam zonas cegas onde peões, ciclistas ou crianças podem desaparecer da linha de visão do condutor.

A resposta da indústria

Os fabricantes têm investido em tecnologias de apoio à condução, travagem automática de emergência, deteção de peões, câmaras 360°, alertas de ângulos mortos. Estas soluções ajudam, mas não substituem a necessidade de ver diretamente. Segundo o IIHS, os veículos com capôs mais altos têm maior probabilidade de causar ferimentos graves ou fatais em peões.

O que está em causa

A redução da visibilidade direta representa um risco crescente em contextos urbanos, onde as interações com peões e ciclistas são mais frequentes.
O novo método de medição desenvolvido pelo IIHS, que usa câmaras e software para mapear os ângulos mortos, permite agora avaliar com precisão o impacto do design automóvel na segurança rodoviária.

A evolução do tamanho e formato dos veículos trouxe conforto e proteção aos ocupantes, mas aumentou os riscos para quem circula fora do veículo. Melhorar a visibilidade frontal deve voltar a ser uma prioridade no design automóvel. Ver é o primeiro passo para reduzir o risco.