Ter a carta de condução traz independência. A partir dos 60 anos surgem mudanças físicas e cognitivas que podem afetar a condução e a segurança rodoviária. Com cuidados simples, é possível manter-se seguro ao volante.
O que muda a partir dos 60 anos
Com a idade, algumas capacidades podem diminuir, aumentando o risco na estrada:
• Aumento do tempo de reação;
• Perda gradual de visão e audição;
• Maior dificuldade em avaliar velocidades e distâncias;
• Menor flexibilidade do corpo, dificultando movimentos como virar a cabeça;
• Maior tendência para a fadiga.
Cuidados a ter ao conduzir depois dos 60 anos
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Faça exames regulares à visão e audição: A visão fornece cerca de 90% da informação necessária para conduzir. A audição também é fundamental para detetar sinais de alerta.
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Verifique os efeitos dos medicamentos: Alguns medicamentos podem causar sonolência ou reduzir a capacidade de reação. Informe-se junto do seu médico ou farmacêutico.
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Planeie as viagens: Em viagens longas, inclua paragens regulares para descanso.
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Evite conduzir à noite: A visão diminui naturalmente com a idade. Conduzir com pouca luz aumenta o risco de acidentes.
- Mantenha-se atualizado sobre o Código da Estrada: Alterações legais podem afetar os condutores séniores. Conhecer as mudanças evita infrações e acidentes.
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Evite condições meteorológicas adversas: Chuva, nevoeiro e vento prejudicam a visibilidade e a estabilidade do veículo.
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Renove a carta de condução a tempo: Em Portugal, os condutores do grupo I devem renovar a carta aos 65 e 70 anos. Após os 70, a renovação é obrigatória de dois em dois anos.
Renovação da carta e exames obrigatórios
A carta deve ser renovada segundo a categoria e a idade do condutor. Para a categoria B (ligeiros):
- Renovação aos 60, 65 e 70 anos;
- Após os 70 anos, renovação a cada dois anos;
- É obrigatório apresentar atestado médico que comprove aptidão para conduzir;
- Certificado de aptidão psicológica emitido por psicólogo credenciado;
- Teste de visão incluído no exame médico.
Função cognitiva: o fator decisivo
Decidir quando parar de conduzir é uma das escolhas mais difíceis para os condutores séniores. Um estudo publicado no Neurology Journals acompanhou 283 participantes com idade média de 72 anos durante quase seis anos. O estudo concluiu que a função cognitiva é o principal fator que determina a decisão de deixar de conduzir, superando a idade e mesmo os primeiros sinais da doença de Alzheimer.
Os participantes com défices cognitivos ou resultados baixos em testes cognitivos foram mais propensos a parar de conduzir. Uma ligeira alteração na escala Clinical Dementia Rating (CDR) aumentava 3,5 vezes a probabilidade de decidir parar. Uma ferramenta mais sensível, o Preclinical Alzheimer’s Cognitive Composite (PACC), mostrou que pontuações mais baixas aumentavam em 30% a probabilidade de desistir da condução, mesmo sem sinais clínicos evidentes de Alzheimer.
A decisão de parar de conduzir deve considerar a função cognitiva, não apenas a idade. Conduzir com capacidades cognitivas diminuídas apresenta riscos significativos para o condutor e para outros utentes da estrada. Condutores, familiares e profissionais de saúde devem avaliar cuidadosamente esta variável para garantir a segurança.
Comparação internacional
No Reino Unido, a carta deve ser renovada a partir dos 70 anos, mas baseia-se na autorresponsabilidade do condutor. Portugal aplica exames médicos e psicológicos obrigatórios, garantindo um controlo mais rigoroso da aptidão física e cognitiva dos condutores séniores.
Sinais de alerta para considerar deixar de conduzir
- Reações mais lentas;
- Dificuldade em lidar com o trânsito;
- Visão deteriorada;
- Condições médicas ou cognitivas que afetam a condução.
Conduzir depois dos 60 anos é possível, desde que se mantenha atento às mudanças físicas e cognitivas. Cumprir exames, renovar a carta a tempo e adotar cuidados na estrada garante mais segurança para si e para todos os utentes da via.