As trotinetas elétricas são cada vez mais populares nas cidades, oferecendo uma forma rápida, acessível e sustentável de deslocação. No entanto, com a sua crescente utilização, surgem também novas preocupações em termos de segurança rodoviária. Um estudo recente realizado na Irlanda pela Ipsos B&A para a Autoridade de Segurança Rodoviária (RSA) revela dados preocupantes que merecem reflexão.
Acidentes com trotinates elétricas: números que não podemos ignorar
De acordo com a investigação, quase um em cada quatro utilizadores regulares de trotinetas elétricas (24%) já esteve envolvido num acidente. E mais: um em cada três (32%) teve pelo menos um “quase acidente”. Todos os acidentes reportados envolveram utilizadores do sexo masculino, e 76% dos utilizadores regulares são homens com menos de 35 anos, a maioria a residir em zonas urbanas.
Comportamentos de risco: o que está a correr mal?
Apesar das novas leis proibirem circular em passeios, um em cada três utilizadores regulares continua a fazê-lo. Cerca de 13% admite transportar crianças e 8% leva outros adultos na trotineta — práticas perigosas e ilegais. O incumprimento é agravado por uma sensação difusa de impunidade: embora haja perceção de que há fiscalização, a aplicação da lei ainda gera dúvidas.
Proteção e prevenção: nem tudo são más notícias
O lado positivo é que seis em cada dez utilizadores usam capacete, e dois em cada três envergam roupa retorrefletora. No entanto, estes não são ainda comportamentos universais. A 20 km/h — velocidade máxima permitida pela nova legislação irlandesa — uma queda sem capacete pode ter consequências graves.
A visão clínica: lesões frequentes e graves
O Dr. John Cronin, médico de emergência e membro da RSA, alerta: “Vemos frequentemente lesões graves em utilizadores de trotinetes, desde fraturas a traumatismos cranianos. Este tipo de veículo oferece pouca proteção, especialmente quando partilha o espaço com veículos ligeiros e pesados.”
E em Portugal? Os números também preocupam
De acordo com dados da PSP, só nos primeiros quatro meses de 2025 foram registados 623 acidentes com utilizadores de trotinetas e velocípedes, dos quais 479 com vítimas. Apesar de não haver mortes a registar nesse período, 16 pessoas sofreram ferimentos graves.
O cenário dos últimos cinco anos revela uma tendência de agravamento: em 2024 ocorreram 1.658 acidentes com vítimas, resultando em quatro mortos, 72 feridos graves e 1.677 ligeiros. O ano mais trágico foi 2021, com 10 vítimas mortais. As colisões representam 73% dos acidentes, seguidas por despistes (21%) e atropelamentos (6%).
A PSP lançou a operação “Mobilidade Ativa em Segurança” com o objetivo de prevenir comportamentos de risco por parte dos utilizadores de trotinetes e bicicletas, alertando para a necessidade de partilha responsável da estrada. Esta iniciativa decorre até 3 de junho, assinalando o Dia Internacional da Bicicleta e promovendo o uso seguro de modos de transporte sustentáveis.
Mobilidade urbana: entre a eficiência e o perigo
As trotinetas elétricas têm vantagens claras em termos de mobilidade urbana. São ágeis, ecológicas e evitam congestionamentos. Mas para que cumpram esse papel sem comprometer vidas, é essencial que os utilizadores adotem comportamentos seguros e que as autoridades garantam condições de circulação e fiscalização eficazes.
A utilização de trotinetes elétricas continuará a crescer. Mas os dados falam por si: sem capacete, com excesso de velocidade ou a circular em zonas proibidas, o risco é real. A responsabilidade é de todos, utilizadores, autarquias e legisladores. Com formação, fiscalização e comportamentos conscientes, é possível transformar esta forma de mobilidade numa opção segura para todos.