À medida que a compra e o uso de trotinetas continuam a crescer significativamente em toda a Europa, vários governos olham novamente para as regras que regem a sua utilização.

Tornozelos e costelas partidas, fraturas faciais e lesões cerebrais. Estas são algumas das lesões comuns que levaram os médicos da capital finlandesa, Helsínquia, a pedir a proibição de trotinetas elétricas no início do verão de 2021, depois de verificarem que estes veículos elétricos estavam envolvidos num número crescente de internamentos associados ao consumo de álcool nas urgências.

Também em Portugal alguns dos maiores centros hospitalares de Lisboa e do Porto alertam para o aumento de vítimas de acidentes de trotineta elétrica, muitas vezes em estado grave, nomeadamente com lesões cerebrais e a precisar de cuidados intensivos.

Os responsáveis hospitalares chamam a atenção para o aumento de casos nos últimos meses e para a necessidade de se apostar na sensibilização e de apertar as regras de segurança.

“O número de acidentes provocados por quedas de trotineta está a crescer bastante. Temos recebido vários casos, que resultaram não apenas em fraturas dos membros e dos punhos mas também, com frequência, em traumatismos crania­nos graves e muito graves, porque as pessoas caem completamente desamparadas e batem com a cabeça sem nenhuma proteção. Já tivemos vários casos em cuidados intensivos, sobretudo de jovens e turistas. Esta segunda-feira estive de banco e só nesse dia recebemos quatro casos”.

Carlos Nascimento, Diretor médico do Hospital Egas Moniz e chefe de equipa de Cirurgia Geral do Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa

O Centro Hospitalar de Lisboa Central, que integra o Hospital de São José, recebeu no último semestre uma média mensal de 31 casos graves de acidentes com trotinetas e bicicletas a requerer internamento e cirurgia.

 “Predominam as fraturas múltiplas e complexas, que são reveladoras da violência das quedas e em 25% dos casos há traumatismo cranioencefálico”.

João Varandas Fernandes, Coordenador do Centro de Responsabilidade Integrado de Traumatologia Ortopédica de Lisboa Central

Mas não só em Lisboa ocorrem estes acidentes,  também no Porto se regista uma subida acentuada deste tipo de ocorrências.

“Temos recebido casos bastante graves de acidentes com trotinetas e bicicletas elétricas, que resultam em traumatismos cranioencefálicos com necessidade de internamento em cuidados intensivos. Como têm as rodas pequenas, as trotinetas são pouco estáveis. Uma pequena pedra pode ser suficiente para provocar uma queda com consequências irreversíveis, uma vez que não se usa capacete”.

Alfredo Calheiros, Diretor do serviço de Neurocirurgia do Centro Hospitalar do Porto

Consciente do problema, a Prevenção Rodoviária Portuguesa irá apresentar ao Governo uma proposta de regulamentação que prevê, por exemplo, reduzir a velocidade máxima permitida de 25 para 20 km/h, descendo até aos 6 km/h nas zonas pedonais.

As propostas incluem ainda:

  • a obrigatoriedade da utilização do capacete bem como o seguro obrigatório para todos os utilizadores;
  • a proibição da utilização destes veículos por menores de 14 e 16 anos, consoante circulem nas ciclovias ou nas restantes vias.

De relembrar que grande parte destas restrições já se encontram em vigor em vários países europeus.